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Planejamento Reprodutivo

DIRETRIZES PARA O PLANEJAMENTO REPRODUTIVO

            A organização do sistema sócio-reprodutivo natural dos cavalos é considerada estável quando um macho adulto é o reprodutor permanente de um grupo de éguas em número variado, denominado harém. Em comparação com outras espécies, as éguas têm um período de estro (cio) ou receptividade sexual, associado com a ovulação, relativamente longo. Em outras espécies de ungulados (que possuem casco) as fêmeas são sexualmente receptivas por somente por um ou dois dias. O estro prolongado das éguas pode estar relacionado com a formação e manutenção dos vínculos entre os machos e as fêmeas do grupo. Esta organização sócio-reprodutiva é alterada na maioria dos sistemas atuais de criação, em que o reprodutor é separado das fêmeas, o que exige o envolvimento do homem no controle do plantel, consequentemente, um planejamento reprodutivo responsável.           

O planejamento reprodutivo de uma criação de cavalos exige o conhecimento da anatomia do aparelho reprodutivo das éguas, dos garanhões e a compreensão das interações entre a fisiologia reprodutiva e o ambiente, principalmente clima e disponibilidade de alimento e nutrientes.

Ciclos Estrais

            As éguas são classificadas como Poliéstricas Estacionais, apresentam vários ciclos estrais em resposta ao aumento da luminosidade, da temperatura e da precipitação pluviométrica, o que acontece na estação da primavera para o verão (dias mais longos e noites mais curtas), porque os nascimentos deverão ocorrer nesta estação, a qual apresenta maior disponibilidade de alimento e nutrientes, bem como possibilitará novos ciclos estrais para a futura gestação.

            Esta resposta fisiológica ao ambiente é denominada Estação de Monta Natural dos Equinos. Nos trópicos, apesar de não haver alteração significativa da luminosidade entre as estações, esta estacionalidade ocorre devido às estações seca e chuvosa, pois estas interferem na disponibilidade de alimento e nutrientes no ambiente.

            Os ciclos estrais nas éguas são de 20 a 23 dias, com média de 21 dias. As fases são o Proestro (preparação para o estro), Estro ou Cio (5-7 dias – influência do estrógeno), metaestro (fase de transição) e diestro (15-17 dias – influência da progesterona). Fora da estação de monta, a maioria das éguas entra em anestro. As éguas são classificadas como Poliéstricas Estacionais, apresentam vários ciclos estrais.

Cio ou Estro

            O período de cio das éguas é identificado com o comportamento típico de aceitação da monta. Os sinais de estro 🎬 são a vulva edemaciada e vermelha, abertura e fechamento sucessivos dos lábios vulvares (estrelamento vulvar),  micção frequente, cauda elevada e pode haver secreção vulvar. Estes sinais são normalmente observados quando da aproximação de um garanhão e mantêm-se por 5 a 7 dias até ocorrer a ovulação, quando desaparecem em 24 a 48 horas. Nas criações onde o garanhão é mantido separado do lote de éguas, o cio pode ser identificado por meio de um rufião, que é um cavalo (não castrado) com libido, mas não é permitida a monta, por barreira física.

            O manejo da rufiação 🎬 permite identificar a égua em cio, para posterior condução à monta com o garanhão escolhido.

“Cio do Potro”

De cinco a nove dias após o parto ocorre o primeíro ciclo estral denominado “cio do potro”. A finalidade deste ciclo é  promover alterações fisiológicas de regressão e “limpeza” uterina. O hormônio estrogênio produzido no cio, aumenta a irrigação sanguínea no útero e potencializa a acão das células de defesa, preparando assim, o útero para o próximo ciclo estral. Porém, nos atuais centros destinados a criação de cavalos, este cio é utilizado na tentativa de uma nova gestação precoce, pois algumas raças valorizam comercialmente os potros nascidos no início da estação de nascimentos (ex. P.S.I.). O correto manejo do “cio do potro” é fazer um exame ginecológico em cada égua o qual permitirá identificar a situação sanitária do indivíduo e, assim, indicar ou não a monta. Se não for possível realizar este exame, recomenda-se aguardar o próximo cio que ocorrerá, aproximadamente, 30 dias após o parto.

Monta Dirigida

            Após a identificação do primeiro dia de cio, como o peródo de estro é longo, recomenda-se alguns cuidados para este manejo. Se não há controle do crescimento folicular, recomenda-se que a primeira monta seja realizada no terceiro dia do início do cio e repetida no quinto e sétimo dia, se ainda estiver com comportamento de estro.

            Nos preparativos para a monta, 🎬 a égua deve ser conduzida ao piquete (baia piquete) do reprodutor, deve ser contida com peia por segurança própria, do reprodutor e das pessoas que realizam o manejo, deve ser higienizada ao redor da vulva e a cauda enfaixada, a fim de diminuir as contaminação, enquanto o reprodutor deve ser mantido na baia. O garanhão é conduzido por cabresto e guia ao recinto para a Monta Dirigida 🎬 após a égua estar preparada. Após a monta e introdução do pênis é imprescindível identificar a ejaculação, a qual pode ser confirmada pelo movimento oscilatório da cauda do garanhão.

            Além da monta dirigida, existe também a Monta a Campo, quando um garanhão é mantido com um grupo de éguas, normalmente de 10 a 15,  durante a estação de cobertura. Esse sistema é utlizado principalmente para raças criadas em regime extensivo. Normalmente este modelo apresenta altos índices de fertilidade, mas será difícil saber a data exata de cobertura, a fim de comunicar à Associação para se obter o registro dos potros. Atualmente, poucas raças estão adaptadas a este tipo de manejo reprodutivo.

Gestação

            O primeiro sinal de gestação é não retornar ao cio 15 a 16 dias após a ovulação (próximo ciclo estral). O diagnóstico gestacional na égua pode ser realizado com a palpação retal (pode-se utlizar aparelho de ultrassom) e vaginoscopia. ginecológico permite identificar com precisão se a égua está gestando, a partir dos 12 dias por Palpação retal com ultrassom + vaginoscopia (12 dias) ou Palpação retal simples + vaginoscopia (20 dias). Porém, como o índice de reabsorção embrionária e aborto é relativamente alto, acompanhar a gestação é essencial na equideocultura. O melhor período é dos 30-45 dias, quando areabsorção embrionária é menos frequente. Na vaginoscopia, o colo deve apresentar formato cônico, com a mucosa pálida, seca e pegajosa.

            Quando mais de um oócito viável é ovulado e ambos são fertilizados, ocorre a gestação gemelar. A ovulação múltipla é relativamente comum nos equinos: chega a 20% em PSI (GOBESSO-USP). Entretanto, a gestação gemelar é altamente indesejável, pois normalmente ocorre aborto ou então os potros nascem fracos e normalmente morrem alguns dias após o nascimento, além de existir risco para a mãe. Na maior parte das vezes, felizmente, um dos embriões é reabsorvido (80% dos casos quando no mesmo corno uterino) e a gestação ocorre de maneira normal com apenas um feto porém em éguas de alto valor zootécnico, há intervenção veterinária em casos de gestação gemelar, com dieta ou crushing (esmagamento).

O período de gestação irá variar conforme uma série de fatores: Espécie – eqüinos: 11 meses (336 dias), muares: 12 meses, asininos: 13 meses. Raça – há pequenas variações entre as raças. Sexo – machos demorariam mais, mas não há comprovação científica em equinos. Idade – éguas jovens que ainda não completaram o seu desenvolvimento podem demorar mais para parir porque utilizam parte dos nutrientes para seu próprio desenvolvimento, atrasando o desenvolvimento do feto. Se a égua for jovem, porém bem nutrida, pode ser que nasça antes porque há menos espaço no útero do que em um animal com mais idade, o que provoca estímulo para o nascimento do feto. Número de partos – se uma égua já teve vários partos, o útero estará mais dilatado e o feto demorará mais para nascer, já no caso de uma nulípara irá nascer antes porque há menos espaço. Número de fetos: potros gêmeos nascem antes, muitas vezes até prematuros, pois não há espaço suficiente, o que desencadeia o parto.

            Outro ponto importante relacionado à gestação é a placenta epitelio-corial, que impede a passagem de anticorpos, do tipo difusa, que permite o fácil descolamento da placenta (abortos).

Parto

parto 🎬 pode ser dividido em três fases:

1) Prodrômica ou de preparação: ocorre cerca de três semanas antes do parto até o início das contrações uterinas. É caracterizada por mudanças  fisiológicas para ocorrer o parto: relaxamento dos ligamentos pélvicos, abaulamento do abdome, preparação da glândula mamária, muda o comportamento, se isolando do grupo ou se mantendo próxima a outras éguas amigas.

2) Fase de dilatação: Tem início com as primeiras contrações uterinas até o rompimento dos anexo fetais, com duração máxima de duas horas. Tem a função de permitir uma abertura suficiente para a passagem do feto e lubrificação.

3) Fase de expulsão: Rompimento dos anexos fetais até a saída completa do feto, que passa a se chamar potro (macho) ou potranca (fêmea). Essa fase na égua é muito rápida, nunca ultrapassando 30 minutos em um parto eutócico (normal).

Cuidados no parto: NÃO se deve interferir no parto normal, porém deve ser observado. Normalmente os partos ocorrem a noite: 75-85% (Anderson, 2008). A égua pode estar em estação ou decúbito, porém é mais comum que se deite quando a fase de expulsão tem início. O ambiente deve ser tranqüilo, sem outros animais ou pessoas estranhas. O melhor local é um piquete maternidade, pois permite à égua caminhar e é menos contaminado. Por comodidade ou condições climáticas, muitas vezes o parto é realizado em baias-maternidade, o que facilita a observação, porém a contaminação pode ser grande. É imprescindível a higiene do local. A interferência no parto somente deve ocorrer se alguma das fases passar do tempo normal ou a estática fetal estiver anormal. A estática fetal normal do potro é apresentação longitudinal anterior, posição superior e atitude flexionada.

Técnicas Aplicadas à Reprodução

Inseminação Artificial

            Essa tecnologia é permitida na maioria das raças de cavalos, embora existam associações de criadores de determinadas raças que a proíbem, como exemplo a do Puro Sangue Inglês. A inseminação arificial permite que o sêmen de um garanhão com boas qualidades zootécnicas seja utilizado em mais éguas. Para tanto, é necessário realizar a coleta de sêmen 🎬 por meio de uma vagina artificial onde será coletado o ejaculado. O ejaculado poderá ser dividido em várias doses e utilizado em mais de uma égua.

Tranferência de Embrião (TE)

            Assim como a inseminação artificial possibilitou melhor aproveitamento dos garanhões, a tecnologia de tranferência de embriões possibilitou melhor aproveitamento das éguas na reprodução. Normalmente, uma reprodutora não poderia produzir mais do que um potro por ano, quando muito, mas essa técnica bem aplicada permite que ela passe seus genes a mais de um produto por cio. Por meio de hormônios, as éguas doadoras fazem superovulação. Após os óvulos serem fertilizados, os embriões considerados viáveis são retirados e introduzidos nos úteros das receptoras, que irão gestar, parir e amamentar o potro. Além de aumentar o número de descendentes de éguas com boas qualidades zootécnicas, essa tecnologia permite que bons animais, porém incapazes de manter a gestação por problemas nos órgãos reprodutivos ou idade se reproduzam, assim como aqueles que rejeitam a cria, não produzem leite suficiente, enfim, que não possuem habilidade materna. Nem todas associações permitem essa tecnologia (como a do puro sangue inglês), e algumas permitem com restrições: a do Mangalarga Marchador exige que as receptoras sejam também animais puros e registrados da raça.


ANATOMIA DO APARELHO REPRODUTIVO DAS ÉGUAS E GARANHÕES

            O sistema genital da égua é composto por 2 ovários, 2 ovidutos (composto por fímbrias, infundíbulo, ampola e istmo), 2 cornos uterinos, corpo do útero, cérvix, vagina e vulva. A glândula mamária também faz parte do sistema reprodutivo.

O sistema genital do garanhão é composto pelos testículos, epidídimo, canal deferente, uretra (pélvica e peniana), pênis e prepúcio. O garanhão possui três glândulas acessórias importantes: as vesículas seminais, com função de produzir a maior parte do sêmen, servindo para o transporte e nutrição dos espermatozóides; a próstata, com função de neutralizar o pH ácido da vagina; e as glândulas bulbouretrais, que limpam a uretra e ao final da ejaculação secretam uma espécie de “tampão”, que é espermicida e serve para dificultar a fecundação por outros machos.

 No macho, a produção de espermatozóides se dá com a produção de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina) pelo hipotálamo, que atua na hipófise provocando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio estimulante do folículo). O LH vai atuar nas células de Leydig, estimulando a produção de testosterona, enquanto que o FSH irá atuar nas células de Sertoli, que liberam proteínas importantes na produção e diferenciação dos espermatozóides. A testosterona é responsável pelo comportamento de garanhão, libido, e manutenção dos caracteres sexuais secundários. Na fêmea, é fundamental para a estimulação do hipotálamo que haja diminuição da produção de melatonina pela glândula pineal, em resposta ao aumento da luminosidade e fotoperíodo. Portanto, a égua é considerada poliéstrica estacional de primavera/verão. O hipotálamo secreta GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), que atua na hipófise provocando a liberação de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio estimulante do folículo). O FSH atua estimulando o desenvolvimento dos folículos ovarianos, que abrigam os oócitos. Os folículos produzem estrogênio, de acordo com seu tamanho, sendo que o pico de estrogênio coincide com o desenvolvimento máximo do folículo, próximo da ovulação, provocando o cio. O estrogênio é responsável pelo comportamento sexual na fêmea e manutenção dos caracteres sexuais secundários. O LH atua no corpo hemorrágico (formado no ovário após a ovulação do folículo), estimulando a produção de progesterona. A progesterona é o principal hormônio responsável pela manutenção da gestação. Tanto no macho quanto na fêmea, esses sistemas são regulados principalmente por feedback (retroalimentação).

Universidade Federal do Paraná
Pesquisa, Ensino e Extensão em Equideocultura

R. dos Funcionários, 1540 - Juvevê
80035-050 | Curitiba | PR
grupeequi@yahoo.com.br
(41) 3350-5625
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